sábado, 18 de abril de 2009

Férias!

Desde julho de 2008 que meus pais, irmã e eu tínhamos combinado passar a Páscoa de 2009 juntos, na casa de minha ¨Oma¨. ( Ja, Ich spreche Deutsch). Afinal, ela já está uma moça de 90 anos e queríamos fazer esta surpresa para ela. E então ficou marcado: nossa Páscoa seria em Marques de Souza. ( prestenção!: não é ¨marquês¨...é Marques mesmo. Não sabe onde fica?Como não? Eu te digo: é uma cidade de colonização germânica ao lado de Travesseiro e Estrela, no Rio Grande do Sul.

Confesso que fiquei ansiosa, eu não visitava Marques, que hoje é um município, desde 92, quando meu Opa faleceu. E estava apreensiva que quando chegasse lá minhas lembranças virassem decepções. Não queria ver asfalto, prédios...queria chegar e sentir o cheiro peculiar de eucalipto,bosta de vaca, erva de chimarrão...Queria ralar o joelho no arame farpado, fazer xixi no meio do mato quando no desespero de todos os banheiros de casa ocupados.....só sobra a ¨patente¨..aquela casinha de madeira fedida com um buraco no meio..ui.
Passei praticamente todas as férias de minha infância lá, subindo em árvores laranjeiras, chupando cana, tirando leite de vaca, correndo de touro bravo, assustando as galinhas,chorando desesperada junto com o porco que ia ser morto pela manhã, sentindo o cheirinho da comida feita no fogão à lenha, ouvindo a serenata que no Natal vinham fazer na janela nas madrugadas.


Enfim, chegando lá, minha irmã e eu resolvemos entrar na cidade a pé pra curtir cada pedacinho e ....surpresa: uma procissão de Sexta-feira Santa no caminho. Tá...Demos uma volta seguindo um motoqueiro (não, não era um motoboy) e voltamos para o nosso trajeto: passamos pela pracinha, o hospital, o pátio do colégio, a Igreja Luterana (ahhh o sino da igreja..eu PRECISAVA ouvir...e não é que tocou? Lagriminhas caindo. Pena que não dá pra fotografar os sons pra botar no porta-retrato) E lá fomos nós reconhecendo: a rodoviária (que é o banquinho na frente do mercadinho), a prefeitura, o cemitério, o boteco e... a rua da minha avó. E no caminho, sempre cumprimentando as pessoas com o tradicional ¨ó¨! ( Ó pra quem não sabe, é abreviação de Mó, que é abreviação de Morgen, Guten Morgen...bom dia..
A calçada continua com a tradicional pedra de sempre. Mas sim, o aslfalto chegou pelas ruazinhas de Marques. (Mas tenho que registrar aqui que é tudo muito limpo, nem um papelzinho de bala no chão, nem bituca.) Chegou também a AMBEV que comprou meu guaraná Polar e tirou do mercado. HUMPF.Ficou só a cerveja. Bom, tudo bem...já estou crescidinha, posso substituir, hehe. Chegaram também algumas lojas de móveis e um restaurante a quilo. Hoje a prefeitura não tem mais a única central telefônica à manivela da vila,mas tem computadores modernos com internet grátis para o uso da comunidade.(a Maristela,telefonista não perdeu o emprego...trabalha hoje na Câmara dos Vereadores!)
E então chegou a hora de ver o Rio Forqueta,a maior e melhor lembrança de todas:os banhos de rio. E não qualquer rio: o rio da infância. Mas, peraí! Cadê aquele mundão de água? E o que é aquela ponte enorme ali em cima? E aquela barragem? E o que são aquelas coisinhas nojentinhas boiando na água? NÃAAAAAAAAAAOOOOOOOOOO!!! Ahhhhhhhh não!!! Mas respirei fundo e entendi uma parte: não chovia há um tempo, rio estava um pouco baixo,seco...mas ainda sim...era o meu rio. Com progresso, pontes e lixos, era ele ali, o mesmo. Me recepcionando depois de tanto tempo. Mesmo com aquele céu sem nuvens disfarçando o friozinho, não pude deixar de dar meu abraço e...tchibum!!
Meu avô sempre me presenteava com os bezerrinhos que nasciam. Minhas vaquinhas (Bonita e Bahiana) não existem mais, mas os Quero-Queros sim, os cocoricós as 6 da manhã também...e os ¨móóóos¨ deliciosos das outras vaquinhas nas estrebarias ou nos pastos também. E também estão as árvores de laranja, fruta-do-conde,caqui, tangerina, pés de alface, o milharal...a mistura de cheiros...ainda está tudo lá.
E surpresa: a Brasília amarela 75 do meu avô estava lá me esperando, intacta, linda e do jeito que ele deixou. Ele morria de ciúmes dela, mas agora quem morre de ciúmes dela sou eu. Só eu dirigi! (pelo menos enquanto eu estava lá) Lógico que fui dar uma volta. Não deu pra fazer poeira, porque agora é asfalto, mas deu pra ouvir música caipira no rádio com chiado e sofrer com a embreagem e câmbios duros.
Foram só três dias para resgatar tantos anos de saudades e lembranças. Não sei se repreencheu meu coração por inteiro, mas espero voltar lá para levar meus filhos um dia.
E então, na minha Brasília amarela (que acabei de herdar antecipadamente) fui dar adeus por agora para minha Marques de Souza de hoje e de ontem. E espero que de sempre, pra sempre.




A quem me lê e me ouve,



Um beijo.



ALANA.



Nenhum comentário:

Postar um comentário