domingo, 8 de agosto de 2010

PAI


Taí uma comemoração que acho digna: Dia dos Pais.
Porque crescemos pendurados na saia da mãe, mas são eles que nos dão um parâmetro na vida.
Eu não lembro, mas me contam que lá pelos meus três ou quatro anos eu ficava apaixonada admirando meu pai.
Claro, achava obviamente que ele era meu herói. Lembro dele, uma tarde, chorando sentado na beira da cama depois de desligar o telefone. O herói dele havia falecido. O herói do meu herói.
Acho que a gente devia crescer vendo os heróis chorarem, se machucarem, errarem. Para não nos cobrarmos tanto depois.

Tenho certeza que meu pai não se lembra das minhas audições de piano, nem do meu primeiro festival da canção, nem da cor da minha lancheira, não sabe se tenho alergia à alguma comida, qual é minha cor preferida, qual é meu sonho realizado ou a realizar, meus traumas, medos, a maioria das minhas vontades ou gostos.

Mas lembro ele me levando ao meu primeiro dia no pré, escola nova. Ele me levando pra escolher discos nos sábados de manhã, andando de bicicleta, fazendo pipas comigo, aprendendo mágicas pra fazer pra mim, decorando minhas festinhas de aniversário, me levando pra falar com o meu professor de ballet, tentando conversar comigo sobre minha primeira menstruação (ele disfarçando estar confortável e eu desejando me enfiar dentro do ármario), pagando a coleção da Barsa e todos os cursos que eu inventava fazer, indo assistir os jogos que eu competia no colégio.

Lembro ele me levando pro trabalho dele quando eu não tinha aula, lembro do gosto do chá gelado que tinha lá e do cheiro de escritório em seus ternos quando chegava em casa. E em sua mesa, na última gaveta, estavam guardadas todas as minhas “obras de arte”: os desenhos que fazia pra ele e ele guardava!

Tenho certeza que o que eu quero pra mim é muito diferente do que ele quer.
E mesmo assim tento chegar ao objetivo comum da vontade de ambos: que eu seja feliz. Acho que é isso que um pai pode desejar pra um filho: que ele seja feliz (e tenha uma boa aposentadoria, casa própria e plano de saúde vitalício, tá... tá... tá...)

Há alguns meses tivemos um desentendimento por msn. Falei algo que ele entendeu meio torto, e acabou ficando por isso mesmo. Ele me disse que eu era muito independente. E eu respondi dizendo que era porque precisei ser assim.
O que eu não disse é que se eu precisei ficar muito independente desde cedo, foi porque eu quis evitar levar problemas ou angústias a ele, pois ele já os tinha demais. E me preocupo tanto com ele, que se depender de mim, não serei eu o motivo de mais uma preocupação.

Como diz a letra de uma música do meu disco: “somos dois com o mesmo sangue na veia. Com erros e perdões a vida inteira.”

Todos têm um medo na vida. O meu é que algo de ruim aconteça a ele. E sendo assim, não serei eu a levar qualquer razão que o estresse, angustie ou preocupe. Porque ele continua sendo meu herói. Só que agora um herói de verdade: um herói que chora.

Feliz Dia dos Pais, PAI.

ALANA.

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